sexta-feira, outubro 08, 2010

O Brasil visto de fora

Este artigo é um ótimo exemplo de como devemos valorizar as empresas nacionais e a nossa economia.

O Brasil visto de fora

Para as grandes gestoras internacionais que podem aplicar em qualquer lugar do mundo, o Brasil desponta como uma rara oportunidade de investimento - tanto em ações quanto em títulos de empresas e do governo.

Por Guilherme Fogaça
05.03.2009
17h24


Revista EXAME -

Os investidores estrangeiros influenciam diretamente o comportamento da Bolsa de Valores de São Paulo. Eles não são maioria na bolsa - juntos, representam cerca de um terço do movimento diário dos pregões -, mas, como agem em grupo, o impacto de suas decisões no desempenho do mercado é grande. Um exemplo do poder desses investidores ocorreu em fevereiro. Eles começaram o mês comprando mais do que vendendo ações de empresas brasileiras - um movimento que não ocorria desde maio de 2008. Resultado: o Índice Bovespa, que reúne as 66 ações mais negociadas da bolsa, subiu quase 9% em apenas uma semana. Com a piora da crise internacional, porém, o ímpeto dos estrangeiros na bolsa brasileira enfraqueceu - e o Ibovespa fechou o mês em queda de 2,8%. Para saber a opinião desses investidores sobre o Brasil hoje, EXAME ouviu seis representantes de algumas das maiores gestoras de recursos dos Estados Unidos e da Europa. Como era de esperar, eles não concordam em tudo. Alguns acham que já é a hora de aplicar em papéis de empresas ligadas ao setor de commodities, enquanto outros se mostram reticentes. Mas o ponto em comum entre todos é a impressão que o Brasil será um dos países menos afetados pela crise. "O Brasil está muito bem em relação às nações ricas e bem na comparação com outros emergentes", diz Luiz Ribeiro, gestor do HSBC de fundos offshore para a América Latina, responsável por um dos maiores fundos Bric do mundo.

Retorno rápido para o investidor

Quem investe em renda fixa no Japão pode levar até 100 anos para conseguir dobrar o valor do dinheiro investido. Dá para fazer isso no Brasil em apenas seis anos. É com essa comparação que a gestora de recursos inglesa Ashmore mostra a seus clientes o potencial dos investimentos em renda fixa no Brasil. Para Jerome Booth, diretor internacional da Ashmore, a baixa taxa de juro nos Estados Unidos transformou os títulos do governo americano em uma alternativa pouco atraente. Na maior parte dos países desenvolvidos, a situação não é diferente. No Japão e na Europa, as taxas também foram reduzidas a próximo de zero nos últimos meses. Por aqui, a Selic está em 12,75%.

Dos 24,5 bilhões de dólares sob gestão da Ashmore, 15 bilhões estão investidos em títulos de dívida atrelados ao dólar em países emergentes - e a principal fatia é no Brasil. No portfólio, há tanto títulos públicos como privados. "O Brasil já enfrentou problemas de crédito várias vezes, e as empresas brasileiras aprenderam a atuar sem depender do crédito estrangeiro", diz Booth. Para o diretor internacional da Ashmore, a recuperação dos mercados desenvolvidos, imersos em uma crise de solvência do sistema financeiro, será muito mais demorada do que a reação dos países emergentes à momentânea escassez de crédito. "Não há como pensar diferente, porque essas nações serão as grandes responsáveis pelo crescimento global nos próximos anos", diz Booth. Outro argumento usado pela Ashmore para convencer seus clientes a aplicar no Brasil está relacionado ao câmbio. Como o real já desvalorizou bastante em relação ao dólar, o momento atual é visto como uma janela de oportunidade para entrar no país.

A crise está provocando um choque de realidade nos investidores internacionais, segundo Booth. "Eles estão revendo seus conceitos", diz. De acordo com ele, o processo de reavaliar o mundo após a eclosão da crise financeira e econômica mundial é crucial. "O banco Itaú é provavelmente melhor do que qualquer banco da Inglaterra, mas um investidor médio britânico não o citaria como um padrão de segurança", diz Booth.

Foco nos grandes bancos

Quando o assunto são investimentos no Brasil, a grande preocupação dos investidores da BlackRock, uma das maiores gestoras de recursos do mundo, baseada em Nova York, é a concentração de empresas ligadas ao setor de commodities na bolsa de valores. O medo é que o preço das matérias-primas permaneça baixo e prejudique ações como as da Vale e da Petrobras, o que deixaria o Índice Bovespa estagnado. Embora os investidores estejam atentos aos perigos, não existe desespero - muito pelo contrário. "Eles sabem que o Brasil está numa posição privilegiada", diz William Landers, gerente sênior de fundos de renda variável para a América Latina. Para 2009, Landers acredita que a melhor estratégia é evitar ações ligadas a commodities. Sua preferência é por papéis de bancos como Itaú e Bradesco. "É um setor que possui liquidez na bolsa, o que continuará sendo importante em 2009", diz. Outra opção são as ações ligadas ao consumo interno, como as da AmBev. "A classe média brasileira deu um salto nos últimos cinco anos e ainda há uma demanda reprimida a ser atendida", completa Landers.

Um plano de cinco anos

Para a gestora de recursos britânica Schroders, com sede em Londres, 2009 é o ano de fazer boas compras no mercado acionário brasileiro. Como estão mirando em retornos para algum momento entre os anos de 2011 e 2013, os gestores do Schroders garimpam ações com potencial de valorização no longo prazo. Segundo o brasileiro Eduardo Mendes, vice-presidente da Schroders, no longo prazo o setor mais promissor é o de empresas ligadas ao setor de commodities.

Para Mendes, um conjunto de fatores deve elevar novamente o preço das matérias-primas mais à frente. O primeiro deles é o cancelamento de diversos investimentos em expansão da produção de matérias-primas no mundo devido à crise - o que provocará, diz Mendes, um desencontro entre oferta e demanda quando a economia mundial voltar a apresentar altas taxas de crescimento. "É o momento de aproveitar as pechinchas para comprar ações a preços inigualáveis", afirma. O maior potencial, segundo ele, está nas empresas de petróleo, porque é onde as reduções de produção terão mais efeito.

Atualmente, os gestores da Schroders estão envolvidos na identificação dos melhores momentos para sair à caça. "Estamos esperando sinais mais claros dos indicadores econômicos, mas com certeza teremos boas oportunidades de compra durante 2009", diz Mendes. A freada brusca na produção industrial no Brasil em dezembro, divulgada no início do ano, preocupou e, no curto prazo, novos dados ruins podem afetar o desempenho da bolsa brasileira, gerando oportunidades de aquisições.

Mendes afirma que o maior erro cometido por seus gestores em 2008 foi não ter preparado a carteira de investimentos para uma crise tão forte quanto a que se viu a partir de setembro. "O problema para nós e boa parte do mercado foi não ter aplicado mais em ações defensivas, como as do setor elétrico, e não ter reduzido os papéis ligados ao setor de consumo." Para este ano, as melhores apostas, segundo Mendes, são os papéis de companhias ligadas aos setores de mineração e de telefonia fixa.

Small caps para o longo prazo

O paulista Luiz Ribeiro, gestor do HSBC de fundos offshore para a América Latina, é responsável por um dos maiores fundos Bric do mundo - o HSBC GIF BRIC tem 1,3 bilhão de dólares para aplicar no Brasil, na Rússia, na Índia e na China. Na comparação, o Brasil se destaca. "A Rússia tem problemas com suas instituições financeiras, e os mercados da China e da Índia não têm informações tão transparentes quanto o do Brasil", diz Ribeiro. Ainda assim, ele acredita que fazer bons investimentos em renda variável no Brasil em 2009 será arriscado. Para Ribeiro, o lucro das empresas brasileiras terá uma redução de 15% a 20% em 2009 em relação ao ano anterior.

Mesmo assim, ele acredita que há oportunidades entre as companhias de maior valor de mercado, principalmente nos setores de mineração e de bancos. "A Vale está sendo negociada a valores atrativos em comparação com suas concorrentes internacionais, e os bancos brasileiros conseguem manter um bom patamar de rentabilidade mesmo em conjunturas mais difíceis", diz. Para quem pensa em investir por um prazo superior a três anos, Ribeiro indica as small caps, empresas com valor de mercado inferior a Cinco bilhões de reais e volume diário de negócios inferior a 4 milhões de reais. "Investidores de fundos de hedge estrangeiros venderam de forma indiscriminada, grandes quantidades de small caps brasileiras no ano passado para fazer frente aos saques em seus países-sede."
É bom emprestar para empresas privadas

O Brasil é o maior destino externo de investimentos da gestora Legg Mason, sediada em Baltimore, nos Estados Unidos. O motivo? A convicção de que o país, assim como alguns outros emergentes, sofrerá menos com a crise do que o restante do mundo. "O Brasil evoluiu, possui políticas fiscais e monetárias mais confiáveis, moeda forte e um banco central disposto a tomar as medidas para estimular a economia", diz Keith Gardner, chefe de investimentos para mercados emergentes.

Apesar disso, Gardner destaca que o ambiente atual - de muita aversão ao risco, queda no preço das commodities e desaquecimento mundial - é desafiador para os mercados emergentes. "O momento é de cautela, e a forma de ser cauteloso sem perder as oportunidades é investir em renda fixa, mais precisamente nas dívidas de empresas privadas desses países", diz Gardner. Sua estratégia é procurar companhias dos principais setores das nações onde investe. No Brasil, as maiores oportunidades, segundo ele, estão nos títulos de dívida de empresas como Petrobras, Vale, Gerdau e Odebrecht. "São empresas sólidas, que estão investindo para crescer no longo prazo." Além disso, Gardner acredita que os pacotes de estímulo econômico na China devem surtir efeito e que o país continuará importando produtos brasileiros. "Com a magnitude dos incentivos ao crescimento que estão sendo dados no mundo, não acredito que os preços das matérias-primas caiam mais", diz Gardner.

A fortaleza dos bancos brasileiros

Os clientes do banco belgo-holandês Fortis que investem no Brasil têm uma dúvida em comum: qual será o impacto da crise no país? O fato de o Brasil ser relativamente fechado (exportar e importar pouco em relação a seu PIB) é visto, neste momento, como uma vantagem, pois a economia pode continuar crescendo puxada pelo mercado interno. "Por outro lado, essa relativa independência também provoca um efeito perigoso: as conseqüências do desaquecimento mundial demoram mais a chegar, o que pode gerar uma falsa impressão de que o país não sofrerá tanto com a crise", diz Gustavo Nagai, diretor executivo do Fortis, que administra 550 milhões de dólares de investimentos no Brasil.

A projeção do Fortis é que o PIB brasileiro cresça aproximadamente 1% em 2009 - abaixo da projeção de 1,8% feita pelo FMI. Isso não significa, porém, que o Brasil deixou de ser uma opção atrativa de investimento para o Fortis. Em 2009, uma das apostas de Nagai são as ações de grandes bancos brasileiros, que, segundo ele, perderam valor injustamente por fazer parte do setor responsável pela crise. Nagai também acredita na recuperação dos papéis ligados a commodities graças, sobretudo ao pacote de estímulo chinês. "Apesar das dúvidas, a maior parte dos investidores estrangeiros acredita que os emergentes continuam sendo a melhor opção de aplicação, pois o centro da crise continua a ser o mundo desenvolvido", afirma.

Um comentário:

  1. Olá, Tiago, penso que temos o deveder de mostrar a realidade de nossa País. E com esse artigo republicado por vc e tantos outros de sua autoria, tem contribuido para o desenvolvimento de nossa socidade. Parabéns.

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